quarta-feira, junho 30, 2010

Hoje levo o cachecol de Portugal para a escola!

Hoje, em dia de praia para o Francisco, partilhei com ele o pequeno almoço.

Entre o cheiro do iogurte, cereais e protector solar, virou-se para mim com os olhos tristes e disse:

"Pai, Portugal perdeu com a Espanha, não foi?"

"Sim filho, eles marcaram um golo e nós não"

Podia ter-lhe dito que temos um adjunto mas não um treinador. Podia dizer-lhe que o Cristiano, capitão mas não líder, estrela sem humildade, menino mimado, fugiu do jogo e da responsabilidade. Podia dizer-lhe que só tivémos um Eduardo e um Fábio Coentrão quando eram precisos 11. Podia encontrar mil explicações mas o facto é que eles foram melhores que nós, ponto.

Concluiu:
"Que chatice..."

A conversa sobre futebol ficou por ali mas percebi que, nos seus precoces 4 anitos, ficou a matutar naquilo.

Antes de sair de casa com a mãe, foi a correr à sala e voltou num ápice. Chegou ao pé de mim e, orgulhoso, mostrou o que trazia ao pescoço dizendo:

"Pai, hoje levo o cachecol de Portugal para a escola!!!"

E lá foi feliz da vida...

Não me canso de ser surpreendido pelas lições que este puto me dá, umas sobre coisas simples e outras, como hoje, sobre a vida. É quando a nossa equipa perde que se mostram os verdadeiros adeptos, é quando as derrotas nos batem à porta que mostramos se aprendemos com elas e crescemos ou se, nos deixando abater, caímos na depressão...

Que todos usemos um cachecol de Portugal hoje...

P.

sábado, junho 26, 2010

O meu Alentejo está a morrer...

O meu Alentejo está a morrer...


O meu Alentejo, nos extremos da margem esquerda do Guadiana, definha de cada vez que lá vou. O meu Alentejo fica longe de Lisboa. e nãp existe autoestrada para lá chegar nem forma de lá ir com mais frequência. Se os dias de agora me deixam pouco tempo para a viagem, o que lá encontro cada vez menos me faz querer voltar.

As recordações que tenho destes sítios são as melhores possíveis…

Férias grandes sem fim à vista passadas entre passeios pelo campo, brincadeiras sem fim, aventuras fenomenais, a companhia e carinho dos meus avós, amizades feitas de cumplicidade apesar das diferenças entre o menino da cidade e os meninos do campo.

Jogos de bola no meio do pó e de suor que acabavam depois da hora de jantar, brincadeiras e conversas que se alongavam pelas quentes noites de Verão, caçadas de fisga na mão, banhos na ribeira e nas barragens, tardes de calor sufocante passadas ao fresco em torno de jogos de sorte e azar.

Havia a oficina do meu avô onde cavalos, burros e “machos” eram “ferrados”, um manancial de ferramentas e experiências para quem vinha da cidade. Ou as tardes na cozinha da minha avó vendo desfilar tabuleiros atrás de tabuleiros com bolos e iguarias sem fim que acabavam invariavelmente por fazer as minhas delícias.

Os pequenos almoços tomados cedo, de café com leite, pão e bolos frescos da padaria, tomados num ápice para não perder tempo.

Os passeios no campo aberto que revelavam uma nova vida para além do betão e e do dia-a-dia fechado na cidade.

E o sempre inevitável regresso a Lisboa, por entre lágrimas e recordações daquele último vislumbrar do vidro de trás do carro, com os meus avós dizendo-me adeus até ao virar da esquina

Enfim, era um Alentejo com vida, com movimento, com actividade e com gente.

Agora os mais velhos envelheceram ou já nos deixaram e os mais novos foram-se para onde a vida lhes sorri porque ali não há emprego nem expectativas. Uns migraram para a cidade maior, outros para fora do país atrás do sonho e dos que antes partiram na mesma senda.

Este Alentejo já não voltará a ser como era, tal como não regressamos aos nossos tempos de menino. Pouco a pouco a vida nestes sítios vai-se indo embora, quem vier por último que feche a porta.

O meu Alentejo continua quente, acolhedor e é ainda o sítio onde me sinto em casa. Aquilo que se diz de que não devemos voltar a sítios onde fomos felizes é uma treta… Mas custa ainda mais partir e sentir que, quando regressarmos outra vez, vamos encontrar menos do que deixamos…

As partidas continuam difíceis como no passado, as lágrimas ainda me rolam pelo rosto nos primeiros quilómetros depois da partida. Ainda olho pelo espelho antes da primeira esquina com esperança que, naqueles segundos, o tempo volte atrás. Ainda os vejo na minha cabeça dizendo-me adeus mas eles já não estão ali...

P.

sexta-feira, junho 25, 2010

The man in the mirror...

Não sou (era) fã de Michael Jackson. Faz hoje um ano que morreu, de uma forma estranha mas tão igual a tantas outras estrelas que, num ápice desapareceram deste mundo.

Hoje ouvi esta música (a versão de James Morrison, fantástica!) com atenção à letra e não pude deixar de pensar que Jackson foi, desde muito cedo, incapaz de se olhar no espelho e confrontar-se consigo próprio todos os dias. O declínio começou quando quis, e o deixaram, ser o que não era.

Atentem à letra e pensem que qualquer mudança que queiramos fazer tem que começar pelo que vemos ao espelho...

P.

I'm gonna make a change, for once in my life

It's gonna feel real good, gonna make a diference
Gonna make it right...

As I turn up the collar on my favorite winter coat
This wind is blowing my mind
I see the kids in the streets, with not enought to eat
Who am I to be blind,
Pretending not to see their needs

A summer disregard, a broken bottle top
And a one man soul
They follow each other on the wind ya' know
'Cause they got nowhere to go
That's why I want you to know

CHORUS:

I'm starting with the man in the mirror
I'm asking him to change his ways
And no message could have been any clearer
If you wanna make the world a better place
(If you wanna make the world a better place)
Take a look at yourself, and then make a change
(Take a look at yourself, and then make a change)

I've been a victim of a selfish kind of love
It's time that I realize
That there are some with no home,
not a nickel to loan
Could it be really me, pretending that they're not alone?

A willow deeply scarred,
somebody's broken heart
And a washed-out dream (washed-out dream)
They follow the pattern of the wind ya' see
'Cause they got no place to be
That's why I'm starting with me
(Starting with me!)

CHORUS

I'm starting with the man in the mirror
I'm asking him to change his ways
(Change his ways - ooh!)
And no message could have been any clearer
If you wanna make the world a better place
Take a look at yourself and then make that..
(Take a look at yourself and then make that..)

CHANGE!

I'm starting with the man in the mirror
(Man in the mirror - Oh yeah!)
I'm asking him to change his ways
(Better change!)
No message could have been any clearer
(If you wanna make the world a better place)

(Take a look at yourself and then make the change)
(You gotta get it right, while you got the time)
('Cause when you close your heart)
You can't close your... your mind!
(Then you close your... mind!)
That man, that man, that man, that man
With the man in the mirror
(Man in the mirror, oh yeah!)
That man, that man, that man,
I'm asking him to change his ways
(Better change!)
You know... that man
No message could have been any clearer
If you wanna make the world a better place
(If you wanna make the world a better place)
Take a look at yourself and then make the change
(Take a look at yourself and then make the change)

I'm gonna make a change
It's gonna feel real good!
Come on!
(Change...)
Just lift yourself
You know
You've got to stop it,
Yourself!
(Yeah! - Make that change!)
I've got to make that change, today!
(Man in the mirror)
You got to
You got to not let yourself... brother...
(Yeah! - Make that change!)
You know - I've got to get that man, that man...
(Man in the mirror)
You've got to
You've got to move! Come on! Come on!
You got to...
Stand up! Stand up! Stand up!
(Yeah! - Make that change)
Stand up and lift yourself, now!
(Man in the mirror)
(Yeah! - Make that change!)
Gonna make that change...
come on!
You know it!
You know it!
You know it!
You know it...
(Change...)
Make that change.

quarta-feira, junho 23, 2010

Filmes de uma Vida (Take 3)

Quando Monty Python, os mestres da comédia, abordam o futebol, a obra prima nasce... O mais intelectual de todos os "sketches" sobre futebol que coloca a Alemanha contra a Grécia na final...



P.

terça-feira, junho 22, 2010

Quando o amor não é suficiente...


Não sou nenhum Guru do amor nem me acho profundo conhecedor das relações entre seres humanos (e já não de sexo diferente...). Mas tenho a minha opinião baseada em por aqui andar há alguns anitos e de ter presenciado o começo e o fim (bem como o "inbetween") de algumas relações.

Vai daí, atiro-me para frente com a minha opinião sobre o tema.

Tenho a certeza absoluta que o chavão "Amor e uma cabana" é um mito dos tempos modernos. Por muito que queiramos o Amor por si só não sustenta uma relação. O Amor é o combustível da Paixão mas para fazer uma relação durar no tempo é preciso muito mais do que isso.

Em primeiro lugar, se não existirem Interesses Comuns uma relação não vai longe. Não tem que haver total acordo em termos de pontos em comum mas há alguns essenciais. Penso que os valores devem estar neste patamar bem como a visão que têm da relação, no fundo, onde leva o relacionamento entre as partes. Daí a importância de um projecto de futuro comum.

Muitas vezes nos esquecemos que o Respeito assume um papel tremendo. Começa pelo respeito pela outra pessoa em todas as vertentes mas também a capacidade de cada um manter o seu espaço, a sua individualidade e o seu percurso dentro da relação a dois.

Logo depois a Partilha. E aqui, ao contrário dos interesses comuns, esta deve ser extensível a tudo. Para o bom, para o mau e, acima de tudo, para tudo o que acontece no dia-a-dia. Alguém me disse uma vez que viver todos os dias custa muito... É verdade e se não partilharmos o fardo com quem está connosco (e vice-versa) então não vale a pena.

Depois a Compreensão... Perceber que cada um é como é, pode mudar em algumas coisas mas essencialmente vai continuar a ser diferente de nós em muitas coisas. Relações falham porque se tenta moldar o outro à nossa imagem e "obrigá-lo" a fazer tudo como nós faríamos. Esqueçam! Aprendam a gostar do outro como ele é, aproveitando o bom e relativizando o menos bom... Ao longo dos anos vão haver noites mal dormidas, dias de trabalho de cão, pontos de quase ruptura, de cansaço extremo. Se chagamos a casa e não compensamos, nessa pequena porção do dia em que estamos com quem realmente nos interesse, então tudo tende para o abismo... Acreditem!

Finalmente, Criatividade para saber, depois de tudo o que corre mal, surpreender. Às vezes com as coisas mais simples do mundo. Não precisamos gastar rios de dinheiro para criar aquele efeito de "afinal, depois deste tempo todo, ainda me consegues tirar do sério e surpreender para além do habitual".

Claro que tudo isto sem Amor também não leva a lado nenhum, não sejamos hipócritas!

P.

quinta-feira, junho 17, 2010

O elogio da Política

Neste artigo, Helena Garrido, salvo erro Subdirectora do Jornal de Negócios e do Negocios.pt, faz um elogio da Política e dos políticos que temos.

Num tempo de crise generalizada, de dificuldades que afectam principalmente os que menos têm e os que mais débeis estão, numa Europa abatida pela dívida dos seus Estados, num mundo em ebulição onde tudo parece à beira do abismo, precisamos, mais do que nunca, de Políticos com "p" grande.

Leiam, critiquem, façam comentários mas envolvam-se nos processos de decisão, atirem-se para a frente e participem. Senão correm o risco de verem o vosso futuro ser decidido por outros...

P.

terça-feira, junho 15, 2010

A minha Tribo do Futebol...


Este comentário vai ser publicado às 15h, hora do início da participação de Portugal no Campeonato do Mundo.

Esta selecção diz-me pouco. Fizemos uma qualificação sofrível e medíocre, temos bons jogadores mas não temos equipa. Não foram escolhidos os melhores jogadores mas os que representam interesses escondidos numa Federação Portuguesa de Futebol que vive enredada numa teia obscura.

Mas esta é a minha tribo do futebol...

Tudo isso fica para trás quando o árbitro apitar para o início do jogo. Quando o hino tocar todos vamos sentir um arrepio na espinha. O país vai parar por causa do Portugal-Costa do Marfim. Dizem os mais intelectuais que somos, por isso, um país atrasado ainda agarrado a Fátima, ao Futebol e ao Fado... Mas sentir uma nação, um país também é isto. Desmond Morris no seu livro "A Tribo do Futebol" faz um paralelismo muito directo entre a paixão pelo futebol e a identificação do grupo, os rituais antropológicos das antigas tribos e a capacidade de a paixão por esse jogo criar fenómenos grupais únicos.

O nosso problema não é a importância que damos ao futebol. Portugal sofre de depressão colectiva. E como todos os sujeitos depressivos, sofremos alterações radicais de estados de alma. Passamos da euforia à melancolia em pouquíssimo tempo. E para isso não há anti-depressivos que bastem! Basta que hoje o jogo corra mal para ficarmos na mó de baixo ou, caso ganhemos, nos considerarmos os maiores do mundo.

Vamos ganhar? Vamos perder? Não sei, apenas sinto a esperança que se sente antes de cada jogo, antes de cada campeonato... porque a bola é redonda e são sempre 11 contra 11, tudo pode acontecer! E se formos campeões do mundo, que seja porque bem precisamos sentir que somos mais, muito mais do que pensamos ser. E não só no Futebol...

P.

Filmes de uma Vida (Take 2)

Escape to Victory!!!

Porque hoje é dia de futebol fica um dos filmes que melhor me lembro da minha infância. Porquê? Juntar futebol com a Segunda Guerra Mundial, dois dos meus maiores interesses, devia ser suficiente. Depois tem um leque de actores excelente: Michael Caine, Max Von Sidow, Sylvester Stallone (ok, ok mas tem a desculpa de ainda estar na sua melhor fase...). Para além disso inclui no elenco jogadores como Pelé, Osvaldo Ardiles ou Bobby Moore a fazerem o que melhor sabem: jogar.

Visto de agora, o argumento é fraco e a história previsível... Mas ver naquela altura um conjunto de esfarrapados prisioneiros aliados a fazer frente à selecção do Reich alemão dava-me um gozo danado

E como hoje é dia para "Fugirmos para a Victória", fica um pequeno trailer:



P.

segunda-feira, junho 14, 2010

Zorro...

Um regalo para os ouvidos...

Zorro (João Monge/João Gil) - By António Zambujo:


Letra:

Eu quero marcar um Z dentro do teu decote
Ser o teu Zorro de espada e capote
P'ra te salvar à beirinha do fim
Depois, num volte face vestir os calções
Acreditar de novo nos papões
E adormecer contigo ao pé de mim

Eu quero ser para ti o camisola dez
Ter o Benfica todo nos meus pés
Marcar um ponto na tua atenção
Se assim faltar a festa na tua bancada
Eu faço a minha ultima jogada
E marco um golo com a minha mão

Eu quero passar contigo de braço dado
E a rua toda de olho arregalado
A perguntar como é que conseguiu
Eu puxo da humildade da minha pessoa
Digo da forma que menos magoa
«Foi fácil. Ela é que pediu!»

 
P.

Madiba – Prisioneiro 46664



Madiba falhou a presença na sessão solene de abertura do Mundial de Futebol na África do Sul.


Por estes dias Madiba, agora com 91 anos, praticamente não sai de casa e sente no corpo o peso de 27 anos preso numa cela e encarcerado num regime que, dominando o seu país, não o considerava como seu cidadão de plenos direitos.

Madiba é o nome carinhoso pelo qual Nelson Mandela é tratado por todos os sul-africanos e que tem origem na forma como os mais velhos são tratados na sua família, uma espécie de “Grande Avô de todos os sul-africanos”.

Pela primeira vez o “World Cup”, evento desportivo mais popular depois dos Jogos Olímpicos, vai decorrer em África. Pelo marco que é e pelo papel que Mandela teve na atribuição desta organização à África do Sul, nada o deixaria mais satisfeito do que poder estar presente naquele que seria, talvez, o seu último acto público. Um acto do destino fez com que Madiba não pudesse estar presente…

Espero sinceramente que, ao contrário do que muitos gostariam, tudo corra pelo melhor. Que a insegurança não seja o centro das notícias, que a organização seja capaz de levar a bom porto um evento desta magnitude, que o futebol jogado seja bonito e espectacular. Que conte apenas o que se passa dentro do campo. E que o povo da África do Sul se sinta orgulhoso e encontre neste Mundial um ponto de partida para os tremendos desafios do futuro.

Espero tudo isso porque Madiba gostaria que assim fosse. E isso basta-me!

P.

quinta-feira, junho 10, 2010

Até já...

Por motivos nada alheios à nossa vontade e relacionados com o descanso do pessoal, voltamos dentro de momentos à emissão de conteúdos neste espaço que é meu e vosso. Esperamos contar com a vossa compreensão... Regressem que nós também!!!

P.

quarta-feira, junho 09, 2010

Demolidor e Brutal

Para quem tem coração fraco não aconselho mas para todos os que andam na estrada... tenham cuidado, por favor e pensem antes de entrar no carro o que pode acontecer se não estiverem em condições:



P.

terça-feira, junho 08, 2010

Filmes de uma Vida (Take 1)

"We Were Soldiers", com Mel Gibson

Apesar de ser uma história de guerra como tantas outras, chamou-me a atenção a lições de liderança que este filme dá. Uma enciclopédia para todos aqueles que aspiram a liderar alguém no futuro.

"When we go into battle, I will be the first to set foot on the field and I will the last to step off. And I will leave no one behind. Dead or Alive!" Lt. Coronel Hal Moore

P.

segunda-feira, junho 07, 2010

Oświęcim - Auchwitz


Oświęcim não é um nome comum.

É um nome de uma localidade no Sul da Polónia, desconhecida, mas quase toda a gente sabe o nome dado pelos alemães quando conquistaram a Polónia em 1939, depois do início da 2ª Guerra Mundial - Auchwitz.

Neste complexo de campos de extermínio construído pelos nazis em 1940 em torno de um antigo quartel do exército polaco, foram assassinados mais de 6 milhões de pessoas em apenas 5 anos! Imaginem mais de 60% de todos os portugueses eliminados para sempre... A grande maioria eram judeus (mas também ciganos,  homossexuais, entre muitos outros) considerados pelos nazis uma raça inferior e a raiz de todos os males que aconteceram à Alemanha após a Primeira Guerra Mundial.

Com uma perícia exímia e uma sistematização tremenda, neste complexo de campos os alemães levaram a cabo a eliminação desses milhões apenas porque os consideravam inferiores. Não eram pessoas que tivessem conspirado contra o Reich alemão, não eram opositores políticos, não eram sequer um perigo para o presente ou o futuro da Alemanha nazi. Professavam apenas uma religião diferente ou pertenciam a etnias, raças ou tinham escolhas de vida diferentes. Pessoas perfeitamente normais como eu ou cada um de nós, com filhos, pais, irmãos, tios, amigos, uma profissão, uma casa e um percurso, violentamente atiradas para um gueto e depois eliminadas quase sem rastro.

Com alguma frequência Oświęcim regressa-me ao pensamento como um toque de sino. Como que para me lembrar quão frágil é a nossa existência e que a humanidade de cada um de nós tem sempre um limite que vai para além do que podemos imaginar.

Hoje dia 7 de Junho não se comemora nenhuma efeméride relativa a Aushwitz. Apenas sei que a 7 de Junho de um qualquer ano entre 1940 e 1944, neste local e apenas porque sim, alguém foi brutalmente assassinado em nome de uma ideologia. Alguém foi explorado e tratado de maneira desumana para alimentar a máquina de guerra da tirania alemã. A alguém foi retirada a humanidade e o direito à existência minimamente decente por ser considerado menos digno disso que um mero animal.

...para que ninguém ouse esquecer que isto realmente aconteceu...
...e aconteceu porque alguns homens quiseram que acontecesse...
...e nenhum homem pode garantir que estamos livres de que volte um dia a acontecer...
...lembremo-nos todos os dias de Oświęcim...

P.

sábado, junho 05, 2010

Com naturalidade...

Bastião Dourado era um peixinho cor de laranja, com 4 cm de comprimento e cuja maior ambição na vida era colocar na boca mais que uma pedrinha de aquário. Foi oferecido ao meu filho pelos seus anos há algumas semanas atrás. Vivia feliz (?) num pequeno aquário na cozinha lá de casa...

Claro que quem cuidava do peixe era a mãe mas era engraçado ver como o Francisco reagia a mais um habitante lá de casa.

Há uns dias atrás, inesperadamente, o peixe bateu as botas e entregou a alma ao Criador (o dos peixes, não o nosso, claro). Os pais (do Francisco, não os do peixe...) ficaram alarmados porque:
  • Não sabiam como dar a notícia ao Francisco
  • Não faziam ideia como iria ele reagir
  • E não sabiam o que fazer depois
A medo chamaram o petiz à cozinha. Com receio mostraram-lhe o aquário com o Bastião Dourado boiando de barriga para cima... Olharam para o Francisco e pensaram "Pronto mais um trauma para a criança carpir, daqui a largos anos, nas futuras consultas de Psicoterapia..."

Com o ar mais natural do mundo, Francisco saiu-se com esta:
       - "Olha...o Bastião Dourado foi-se!!! Não faz mal, depois compramos outro..."

E seguiu à sua vida porque, sinceramente, há coisas mais importantes que ter pena de um peixe morto...

Lição: as crianças conseguem quase sempre surpreender-nos e, muitas vezes, nós fazemos grandes problemas onde eles não existem...

P.

sexta-feira, junho 04, 2010

Os novos Emigrantes...

S. fechou a porta atrás de si. Pegou na pesada mala e, sem olhar por cima do ombro, deixou para trás uma vida inteira. Agarrou ainda com mais força o bilhete de ida e cerrou os olhos para segurar as lágrimas dentro de si. Ia aproveitar uma oportunidade profissional como nunca tinha tido em Portugal, ia refazer a sua vida noutro país e recomeçar noutra cidade, noutra cultura. Mas por muito que dourasse a pílula, a dor no peito não passava. O tempo curaria isso mas, enquanto de deslocava para o aeroporto, o tempo era ainda curto demais para se esquecer...

Num país que bate cada vez mais no fundo como se este lhe fugisse dos pés, onde as oportunidades são para quem pode e não para quem merece, onde a corrupção é norma e quem a repugna torna-se fora-da-lei, quem tem valor faz-se ao caminho...

Num país que cada vez mais desiste dos seus a troco de meia dúzia de tostões e um TGV, quem merece e tem capacidade vai atrás do sonho mas lá fora e não cá dentro...

Num país de Fátima ou Futebol, não resta alternativa a quem quer ter sucesso senão procurar o Fado noutras paragens...

Como o Gama ou o Cabral dos Descobrimentos, o Mendes Pinto da Peregrinação, os Santos que foram para o Brasil no Séc. XIX ou os Silvas que fugiram da Guerra de África para França e para a Suiça, hoje quem quer "safar-se" só fugindo deste pântano.

Portugal desistiu dos seus em troca de quase nada, os jovens não têm perspectivas e os que já não o são, não têm emprego. Estrangulados entre o controlo do défice público e a falta de crescimento, o desemprego e a precariedade, a corrupção e a mediocridade os que ainda confiam em si e no seu potencial, desistem de Portugal e vão ter sucesso noutras paragens. E, surpreendentemente ou talvez não, conseguem!

Ficam os que não podem sair ou aqueles que, agarrados à utupia, acreditam ainda que, no limite, ainda algo resta de esperança ao Portugal dos pequenitos...

P.