terça-feira, setembro 28, 2010

(I)Mortalidade

Ontem, num absolutamente banal olhar de esguelha, cruzei-me com ela...

Não me enfrentou cara a cara nem me dirigiu qualquer palavra. Passou apenas, como se flutuasse gélida e impávida no éter ao ritmo de um pendulo imparável.

Ontem, quando menos esperava, percebi o que muitos percebem ao fim de uma vida e outros, por a deixarem cedo demais, nunca lá chegam perto.

Entendi, sem perceber porquê, que não vou cá estar para ver os meus filhos chegarem a velhos e chegará o dia em que eles terão de estar preparados para viver sem mim. Não estarei quando a ciência, montada no seu corcel furioso da evolução, tornar banais doenças que hoje matam sem pudor ou levar o Homem por espaços nunca dantes navegados.

Quando a Queda do Muro de Berlin, os atentados às Torres Gémeas ou a eleição do primeiro negro fizerem 100 anos não vou festejar e dizer "eu vivi esses tempos loucos". Mas estive nesses momentos por aqui!

Hoje, num dia de Outono ainda vestido de Verão, dei de caras com a minha mortalidade. Ela, frígida mas intensa, ignorou-me. E eu fiz-lhe o mesmo... Porque até ao últimos dos meus minutos, viverei como se fosse imortal, contam os dias que cá estamos, o que neles sentimos e não deixamos por fazer. A vida vale o que dela fazemos e sentimos em cada momento. Tristes são aqueles que quando partem o fazem a pensar no que deviam ter feito.

Para esses a Morte tem um recado: "Agora já foste...!"

P.

1 comentário:

andreia disse...

é por estas e por outras...que partilho do mesmo sentimento :)