O meu Alentejo está a morrer...
O meu Alentejo, nos extremos da margem esquerda do Guadiana, definha de cada vez que lá vou. O meu Alentejo fica longe de Lisboa. e nãp existe autoestrada para lá chegar nem forma de lá ir com mais frequência. Se os dias de agora me deixam pouco tempo para a viagem, o que lá encontro cada vez menos me faz querer voltar.
As recordações que tenho destes sítios são as melhores possíveis…
Férias grandes sem fim à vista passadas entre passeios pelo campo, brincadeiras sem fim, aventuras fenomenais, a companhia e carinho dos meus avós, amizades feitas de cumplicidade apesar das diferenças entre o menino da cidade e os meninos do campo.
Jogos de bola no meio do pó e de suor que acabavam depois da hora de jantar, brincadeiras e conversas que se alongavam pelas quentes noites de Verão, caçadas de fisga na mão, banhos na ribeira e nas barragens, tardes de calor sufocante passadas ao fresco em torno de jogos de sorte e azar.
Havia a oficina do meu avô onde cavalos, burros e “machos” eram “ferrados”, um manancial de ferramentas e experiências para quem vinha da cidade. Ou as tardes na cozinha da minha avó vendo desfilar tabuleiros atrás de tabuleiros com bolos e iguarias sem fim que acabavam invariavelmente por fazer as minhas delícias.
Os pequenos almoços tomados cedo, de café com leite, pão e bolos frescos da padaria, tomados num ápice para não perder tempo.
Os passeios no campo aberto que revelavam uma nova vida para além do betão e e do dia-a-dia fechado na cidade.
E o sempre inevitável regresso a Lisboa, por entre lágrimas e recordações daquele último vislumbrar do vidro de trás do carro, com os meus avós dizendo-me adeus até ao virar da esquina
Enfim, era um Alentejo com vida, com movimento, com actividade e com gente.
Agora os mais velhos envelheceram ou já nos deixaram e os mais novos foram-se para onde a vida lhes sorri porque ali não há emprego nem expectativas. Uns migraram para a cidade maior, outros para fora do país atrás do sonho e dos que antes partiram na mesma senda.
Este Alentejo já não voltará a ser como era, tal como não regressamos aos nossos tempos de menino. Pouco a pouco a vida nestes sítios vai-se indo embora, quem vier por último que feche a porta.
O meu Alentejo continua quente, acolhedor e é ainda o sítio onde me sinto em casa. Aquilo que se diz de que não devemos voltar a sítios onde fomos felizes é uma treta… Mas custa ainda mais partir e sentir que, quando regressarmos outra vez, vamos encontrar menos do que deixamos…
As partidas continuam difíceis como no passado, as lágrimas ainda me rolam pelo rosto nos primeiros quilómetros depois da partida. Ainda olho pelo espelho antes da primeira esquina com esperança que, naqueles segundos, o tempo volte atrás. Ainda os vejo na minha cabeça dizendo-me adeus mas eles já não estão ali...
P.
sábado, junho 26, 2010
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1 comentário:
Não, o teu Alentejo não está a morrer, só que agora és tu quem vai ca
Enquanto tiveres recordações tão fortes como as que acabas de escrever,
Enquanto sentires o gosto bom dos dias que lá passaste e ainda passas,
Enquanto transmitires aos teus filhos as tuas (nossas) raízes e história
Enquanto amares tudo o que de lá rcebeste
Esse Alentejo, garanto-te, vai passar de geração em geração cada vez mais forte porque remoçado.
Bj
MEG
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